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Mente esquecida
...oficina das newsletters atrasadas
Já é 21 de julho e eu nem tive a cara e a coragem de tocar no tema que eu queria tocar nessa newsletter porque, olha só, esqueci qual era.
Esquecer é algo corriqueiro na minha rotina, veja bem, embora não seja proposital.
É uma coisa que me irrita profundamente e me gera ansiedade. Acontece com coisas simples, como esquecer frases que eu queria dizer por conta de distrações, e coisas que, para mim, são enormes: esquecer as chaves ou fones em casa, não lembrar de pegar o almoço na geladeira, perder objetos importantes na rua e por aí vai.
Juro que já busquei criar métodos para contornar essa questão. Dizer em voz alta, conferir diversas vezes, reler textos e documentos diversas vezes, mas é muito mais forte do que eu. Quando vejo, já esqueci.
Na minha cabeça, ações e pensamentos não podem acontecer simultaneamente, é uma receita para o desastre. Tendo a pensar em várias coisas quase que juntas e isso é o que me faz perder o contato com a realidade por alguns momentos, me levando a esquecer coisas importantes.
Foi assim que, no último mês, deixei de me planejar para reviver um dos meus momentos mais queridos do ano passado: o Julho Não Binário.
No ano passado, quis fazer uma maratona legal e incentivar as pessoas a lerem mais não binários. Embora os posts de indicações de livros, séries e filmes tenham ido muito bem, a adesão geral não foi tão bem assim.
Me permita ser honesto e direto agora: as pessoas só se importam na teoria, no seguro, enquanto não as coloca num lugar de defender a pauta. Por isso, esse ano, não quis ser tão… “demais”? Trouxe um julho não binário mais tímido, mais contido, como uma mera sugestão. Afinal, porque eu, sozinhe, me darei o trabalho de promover a literatura que indico o ano inteiro se ninguém está de fato interessade?
No fundo, eu sei a importância disso. Sei a importância de evidenciar histórias marginalizadas, de amor, de amizade, de violência, dos horrores e todas as nuances da existência e da vivência trans, mesmo para os meus seguidores, que não são tantos quando comparada a outras pessoas criadoras de conteúdo, mas que tem seu impacto no dia a dia. E ainda assim, sinto que não é o suficiente se o impacto parar nessas pessoas, se elas não passarem essas histórias adiante, quem mais vai saber desses livros além delas?
Fiquei tanto tempo preso nesses pensamentos de “será que vale a pena?” que o tempo passou e eu não fiz nada além do que deu.
Enfim, esqueci que tenho direito de sentir orgulho.
E nessa mesma linha de esquecer por sentir que vai dar errado ou que talvez não valha me dedicar, tenho passado por uma dificuldade absurda em lembrar de chegar em casa e continuar a escrita das minhas próximas histórias.
Esgotado por causa do trabalho, com a mente exausta por trabalhar como criatividade, as últimas semanas após a conclusão do projeto secreto tem sido difíceis para a minha imaginação, que parece ter perdido o fio da meada.
Ela esquece dos planos, se frustra com isso, mas também não lembra de anotar fatos importantes para a história. Também fui atrás de técnicas para conseguir dar um gás nelas, mas nada acontece. Estou tentando redescobrir como deu certo das outras vezes, qual foi o bicho que me mordeu e me fez escrever um conto de Natal em duas semanas que não me morde pra escrever um romance em seis semanas?
Espero saber logo para poder anotar e não perder de vista, porque realmente quero poder dizer que estou chegando a algum lugar — mesmo que essa história não esteja sendo escrita para publicar agora.
Esquecer não é algo voluntário pra ninguém, mas para mim às vezes é muito pior. Já fiquei muito mal por ser assim, já fiz as pazes com essa parte do meu cérebro várias vezes, já tentei aceitar, já tentei negar, mas parece que não dá em nada. Sempre volta pro mesmo lugar, o mesmo dilema: como esquecer menos?
Sim, a terapia ajuda muito com isso, mas acredito que o próximo passo seja descobrir o porquê disso acontecer tanto. Acredito que isso acontecerá em breve, aliás, então não precisa se preocupar.
Queria poder lembrar mais, não das coisas que lembro com frequência e me perseguirão pelo resto da vida. Essas, ironicamente, gostaria de poder esquecer.
Acho que essa é mais uma newsletter sem conclusão alguma. É mais uma atualização e um desabafo sobre como lidar com a memória é complicado.
Sobre a escrita…
Está vindo aí, acredita? Depois de quase dois anos escrevendo, o projeto secreto está pronto para nascer. Ainda não tem uma data, mas já temos uma capa BELÍSSIMA, por uma pessoa artista que a maioria de vocês deve conhecer, e o texto vai pra revisão logo, logo.
Essa foi uma história desafiadora em vários sentidos e espero poder contar mais sobre isso pra vocês quanto antes. Também foi um processo divertido e de muitos aprendizados, cheio de amor e carinho e um pouco de saudosismo.
Não vamos visitar o Ninoverso nessa narrativa, mas o universo de alguém que eu amo muito.
Quanto ao outro projeto citado nessa newsletter, vamos chamá-lo de Ginasta e Bailarino, ele tem um prólogo, tem uma direção e tem muita emoção envolvida. São meus personagens mais complexos e talvez os mais prováveis de serem odiados pela maneira como agem, mas sinto que 99,9% das pessoas irão amá-los tanto quanto eu amo a ideia deles.
Também iniciei um conto sobre baleias… voadoras. Vai fazer sentido e, se tudo der certo, sai ainda esse ano. Trago mais atualizações em breve.
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